quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Meu filho não quer estudar! O que eu faço?

No mês de julho de 2012, concedi uma entrevista  à Rede Tv, jornal SC no ar, onde o assunto era: a concentração frente aos estudos. As dificuldades que os pais encontram na hora da criança realizar  as lições de casa, os deveres. A entrevista durou apenas 4 minutos. Gostaria de ter tido mais tempo para falar mais sobre essa ''hora'' que muitas vezes pode virar um pesadelo tanto para a criança como para os pais. Neste espaço, vou  trazer algumas dicas para tentar ajudá-los.
 A criança inventa vários motivos para não estudar, e isso acontece com a grande maioria delas: ''estou cansado (a)'' ''quero brincar'' ''depois eu faço'' ''estou vendo tevê'' ''não vou'' ''não quero'' ''faço amanhã'' ''não, não e não'' e assim por diante...
Alguns pais são pacientes, cedem as vontades da criança, deixando para depois, e esse depois fica para o outro dia, e nesse outro dia não dá tempo, e às vezes a criança chega na escola com as lições não feitas. Ou faz as pressas, não se apropriando bem do conhecimento. Outros pais acabam ficando sem paciência, e os estudos viram uma briga desnecessária e diária. E se tem ''brigas'' os estudos vão ficar sempre pra depois. Afinal, a criança que é muito inteligente se afasta de tudo que não lhe dá prazer.
A primeira dica é: tente ser paciente. Afinal, é só uma criança que precisa de você e de sua inteligência e jogo de cintura. Às vezes é difícil mesmo, os pais estão cansados, muitos trabalham fora, o dia inteiro, não tem tempo, pensam que: ''se todos fizessem a sua parte'', tudo ficaria melhor... ''Por que ele (a) faz isso sempre? '' etc.
Mais a pergunta  é: como fazer meu filho se concentrar? Qual é a minha parte?
Sim, dá pra resolver isso. Sim, você tem a sua parte!
 
Quais as maiores dificuldades que a criança encontra na hora de estudar?
A grande dificuldade está em abrir mão das ''atratividades'' que lhe dão prazer: televisão, computador, o vídeo game, iPad, os brinquedos, os amigos, etc. Fazer essa troca não parece ser muito interessante para a criança. Dificilmente você encontrará uma criança que fará essa troca facilmente. Por exemplo, você diz: ''filho é hora dos deveres'' a criança corre para a mesa de lição, abre o caderno e começa... esquece.
É preciso algo a mais... Eu diria dois elementos fundamentais: a presença dos pais e o lúdico.  A criança vai se interessar pelos estudos se os pais estiverem presentes e o lúdico também. Quando falo ''pais'', claro que pode ser: mãe ou pai como ''função''. Se forem os dois, ótimo.  O que é lúdico? Lúdico é todo e qualquer tipo de brincadeira: jogos, brinquedos, músicas...  O que são os pais? São aqueles que protegem, amam, cuidam e, ensinam.
Tem uma frase famosa ''é brincando que se aprende'', eu acrescento ''é brincando com amor, que se aprende''.
A criança só se concentra naquilo que gosta, isso é fato. E o que ela mais gosta?
1-  pais
2- brinquedos (brincar)
Ressalto a importância da presença dos pais na hora dos estudos. É sabido que na atualidade cada vez mais os pais estão indo para o mercado de trabalho. Ambos trabalham fora, e isso se faz necessário para o sustento da família. Mas é necessário que os pais disponibilizem um tempo do seu dia para estar com a criança, ajudando-a, elegiando-a, brincando com ela. Se não deu tempo naquele dia, olhe o caderno, elogie no dia seguinte, deixe um bilhetinho dizendo que a criança é muito inteligente, que adorou, etc. Se errar, ajude-a, jamais critique. Quando a criança é criticada ela se torna uma criança medrosa, desatenta, e pode vir a se tornar um adulto incapaz. Se você ir a fundo na história de vida de pessoas que não conseguem realizar nada na vida, pessoas que não tem forças para trabalhar, por exemplo, você com certeza vai ouvir relatos de críticas e humilhações advindas dos cuidadores.
Juntando a presença acolhedora dos pais e as brincadeiras, a criança se concentra e realiza seus estudos.
Sabe aquele brinquedo que seu filho mais adora? Leve para o espaço dos estudos. Pegue o boneco, se for o caso, e faça ele falar... dê voz ao boneco: use a sua voz: ''Amiguinho, vamos estudar, está na hora.'' ''Amiguinho eu quero aprender matemática, me ensina? Você sabe, eu não sei''. Essa técnica dá pra usar até uns 7 anos de idade. Passou dos 7 anos, pode-se pensar num esquema de pontuações e gratificações. As famosas estrelinhas... Falarei delas mais adiante.
 E se a criança tem a presença dos pais e mesmo assim não funciona? O importante é observar como a criança sente a presença dos pais. É uma presença acolhedora, que ajuda? Ou uma presença que sufoca? Às vezes a desatenção pode estar relacionada com um sentimento de sufocamento. A criança se sente tão cobrada, que estar desatenta pode ser  uma tentativa de ser menos cobrada. Ou às vezes, a criança quer ter um pouco de autonomia. Nesse momento os pais devem pedir: ''quando você terminar de fazer os deveres sozinho, pode me mostrar? Preciso assinar'' ''ah, eu sei que você sabe fazer sozinho'' ou mesmo ''acho que você não sabe... será que sabe?'' essa frase move a criança a correr para realizar as lições para mostrar que sabe. Nesse caso, a partir dos 6 anos de idade.
Gosto muito de construir no consultório com meus pequenos paciente um relógio. Esse relógio vai marcar a hora certinha dos estudos. Quase sempre funciona. Mas é necessário estar presente também na cena, esse ''brinquedo'' querido pela criança. É o mesmo brinquedo que deve ir na escola com a criança no dia do brinquedo. Se a criança quiser trocar de brinquedo, tudo bem. É esse outro brinquedo que deverá chamar a criança no outro dia para fazer as lições. Com amor, cuidado e carinho, vai funcionar. E lembre-se, sua presença é, eu diria, a mais importante. Sente com seu filho  veja e sinta a evolução.
Outros fatores que devem ser levados em conta:
1- Fatores fisiológicos: a criança está alimentada? Está com o sono em dia? descansou bem antes dos estudos? É preciso um tempo entre a chegada da escola e a hora dos estudos. Um tempo para ela se alimentar, brincar, e descansar.
2- Fatores emocionais: como está o lado emocional da criança? ela vem apresentando alguma alteração de humor? Alguma queixa? É preciso observar seus comportamentos, dentro e fora do espaço doméstico.
3- Fatores educacionais: como está seu desenvolvimento na escola? suas notas, suas tarefas em sala, sua interação com os professores e colegas. Alguma queixa advinda da escola? Alguma queixa em relação à escola, amigos, professores?
4- Fatores familiares: como é o ambiente doméstico? É tranquilo ou estressante?  Como é sua relação  com os pais, irmãos e, com animais domésticos?
5- Espaço para os estudos. Existe um espaço destinado aos estudos? Há materiais disponíveis? Isso é muito importante. É importante reservar na casa um local, com boa iluminação, sem distrações por perto, estabelecer um horário e tentar mantê-lo diariamente.
6- Observar se a criança apresenta alguma outra falta de concentração, e se ela não está tendo ganhos secundários. Como foi dito na entrevista que concedi: a criança pode com a desatenção nos estudos ganhar a atenção dos pais.
7- Espaço para falar. A criança fala através do seu brincar. É muito importante ouvir a criança, deixá-la falar sobre o que a incomoda. E não tentar enquadrá-la a bons modos. O que não é dito aparece como sintoma.
Se a criança apresentar falta de concentração em outras atividades, é indicado levá-la em um especialista. Sou a favor da campanha: “se você acha que seu filho é muito arteiro, fique calmo, ele está apenas sendo criança”. Não à medicalização. Sim ao espaço da criança.
Segunda parte do trabalho de conclusão de curso em Psicologia. Um caso clínico.
Trabalho de conclusão de curso defendido no Complexo de Ensino Superior de Santa Catarina. Nota 10 com indicação à publicação em revista científica. Um caso clínico de uma criança de 5 anos de idade.
http://www.youtube.com/watch?v=LTMOfRz_lZU&feature=plcp

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

terça-feira, 15 de maio de 2012

Hoje recebi um telefonema de uma amiga. Ela me relatava que uma amiga dela já não sabia mais o que fazer com seu filho de cinco anos. Este, se tornara muito agressivo, em casa e, na escola. A suspeita era: na ocasião em que se deu início ao  mau comportamento, nascera sua irmãzinha. Não pude deixar de ouvir imaginamente os gritos de desespero dessa criança com a chegada da irmã.
  A chegada de um bebê ''estranho'' na família, pode despertar comportamentos agressivos no irmão (a) mais velho. Abordaremos neste espaço o que se pode fazer para transformar comportamentos agressivos em uma relação de amor, proteção e amizade.


A chegada de um bebê na família: O sentimento e comportamento do irmão mais velho
A queixa é a mesma: ‘’meu filho (a) vem apresentando comportamentos estranhos’’.
 ‘’Desde quando?’’, "Desde que engravidamos."
Primeiramente devemos pensar a criança como um ser singular (ser único). Não dá pensar em receitas mágicas, prontas, nem afirmar que todas as crianças vão se comportam da mesma maneira.  Mas devemos pensar que: a chegada de um bebê na família irá balançar o interior de qualquer criança, despertando os mais íntimos e diferentes sentimentos e comportamentos.
Imagine uma criança de 5 anos, que sempre foi o centro das atenções, tem a admiração, o amor, e os cuidados dos pais direcionado só para ela. De repente, vê sua mãe acariciando a barriga, falando da chegada de um bebê, arrumando o seu quartinho... A mãe fala para ele: ‘’você terá um irmãozinho (a)’’. Será que essa criança sabe o que é ter um irmãozinho? Será que esse irmãozinho irá tomar o seu lugar junto da mamãe e do papai? Será que ele foi preparado para a chegada de um bebê?
Esse é um momento em que a criança pode apresentar comportamentos estranhos, tais quais: agressividade, inclusive na escola, enurese noturna (xixi na cama), falta de apetite, não querer mais andar, pedir bico ou mamadeira, insônia, etc. O sentimento de ciúmes é o mais visível em muitas crianças. É nesse momento que os pais têm que ter um ‘’espírito interventivo’’, eu diria: ter paciência e pensar o porquê de tal comportamento: Por que está fazendo isso? Será que ele não faz para chamar atenção? Conversamos com ele o suficiente para explicar a chegada do bebê? Ou apenas perdemos a paciência e logo aos gritos queremos que ele se cale? Qual foi o meu comportamento com a chegada de um irmão (a)? Será que também me comportei estranhamente? Fazia tudo ao contrário do que minha mãe pedia? Pode apostar que sim!!!
Desde o nascimento o ser humano é cuidado pela figura materna, e ele vai fazer qualquer coisa para não perder o seu reinado. Freud nos fala em seus ensinamentos que o pai inicialmente é o grande rival da criança, imagine a chegada de um irmão (a)? Ele terá que disputar o amor da mãe com mais um.
 Seus pensamentos inconscientes podem se resumir da seguinte maneira:
‘’Fazendo tudo ao contrário, significa que ganhei a atenção da minha mãe. Se ganhei a atenção dela com esse comportamento errado, continuarei aprontando, mesmo que eu sofra às consequências. Mesmo que mamãe me bata, grite comigo, me coloque de castigo. Eu a tenho perto de mim ’’.
Françoise Dolto, uma das pioneiras da psicanálise com crianças diz que: ‘’O homem sabe tudo desde muito pequeno’’
Desta maneira, as crianças são muito mais inteligentes do que se pode imaginar. Seu inconsciente é o mesmo quando se tornar adulto. E dependendo das intervenções que a criança recebe quando apresenta maus comportamentos, pode torná-la um adulto com sérios problemas de conduta. Por exemplo: Aquela pessoa que não mede consequências para aparecer para os outros.
É de suma importância, a meu ver, que a criança seja preparada desde cedo para a chegada de um irmão (a). Cuidar para que esta criança não seja deixada de lado. Convidá-la a participar da arrumação do quarto, das roupinhas... Convidá-la a falar sobre o que acha da chegada do bebê. Em nenhum momento reprimir o seu dizer... Deixar a criança se expressar, pois o que ela realmente quer dizer é que está com medo, medo de perder o seu lugar.